Reformulação: A indústria tecnológica da China enfrenta desafios devido às sanções, e surgem dúvidas sobre o impacto das presidências de Trump e Harris.

Reescrita: Escrito por Eduardo Baptista e Anne Marie Roantree.
Se Donald Trump vencer a presidência dos EUA na próxima semana, isso terá um impacto significativo nas empresas de tecnologia chinesas, de acordo com executivos. Sua abordagem imprevisível pode resultar em mudanças tanto positivas, como alívio nas sanções, quanto negativas, como restrições mais severas, em comparação com uma vitória de Kamala Harris.
O candidato republicano de 2017 a 2021 desencadeou um conflito comercial entre China e EUA ao proibir a exportação de tecnologia avançada para a China, alegando práticas comerciais desleais e preocupações com a segurança nacional. Apesar disso, sua postura agressiva, incluindo o uso frequente de tarifas, poderia afetar negativamente os aliados dos EUA e prejudicar possíveis ações conjuntas, conforme apontado por líderes da indústria de tecnologia chinesa.
Ele está acompanhando as pesquisas de opinião com seu concorrente do partido democrata, sendo que os executivos esperam que ele siga a política atual de fazer mudanças regulares e graduais nos controles de exportação, além de fortalecer alianças internacionais para conter o avanço tecnológico e militar da China.
Observadores esperam que haja novas restrições para diminuir os avanços em um momento em que Pequim está mais assertiva em disputas territoriais no Mar da China do Sul, aumentando a presença da marinha e da força aérea em torno de Taiwan, que é reivindicada pela China, e fortalecendo laços com Moscou.
A previsibilidade torna Harris a opção preferida de muitos executivos, no entanto, de forma irônica, a abordagem aparentemente imprevisível de Trump pode favorecer a China, de acordo com várias análises de grupos da indústria chinesa, think tanks e corretoras revisadas pela Reuters.
As análises oferecem uma perspectiva mais aberta sobre como o setor de tecnologia da China está apoiando sua visão para a próxima presidência, em contraste com a abordagem dos veículos de comunicação do governo em questões políticas delicadas.
Metade das análises avaliou que uma possível vitória de Trump teria efeitos negativos a curto prazo, pois aumentaria a chance de intensificação dos controles e sanções de exportação no setor de semicondutores da China. Durante seu mandato como presidente, Trump impôs tarifas sobre bilhões de dólares em produtos chineses e sancionou empresas como a fabricante de chips SMIC e a de telecomunicações Huawei.
“Se Trump retornar à presidência, isso pode resultar em uma maior repressão na indústria de semicondutores doméstica, que está passando por uma atualização significativa na China”, alertou a corretora Topsperity Securities em agosto.
Outras análises foram consideradas menos conclusivas. Um artigo da revista Material Energy Times, voltada para empresas chinesas que fornecem fabricantes de semicondutores com matérias-primas, afirmou em julho que as medidas unilaterais de Trump podem enfrentar resistência e falta de cooperação da comunidade internacional.
De acordo com o editorial, as políticas que a vice-presidente Harris receberia do presidente Joe Biden são mais extensas, sincronizadas e previsíveis, o que pode resultar em desafios mais consistentes, porém de longo prazo, para a indústria de semicondutores da China.
A imprevisibilidade de Trump se reflete em suas declarações e publicações em redes sociais. Durante seu mandato presidencial, ele demonstrou disposição para reverter decisões tomadas em relação à Huawei e ZTE. Agora, em sua campanha atual, ele está combatendo uma proibição do TikTok, um aplicativo de propriedade chinesa, que ele mesmo sugeriu enquanto era presidente.
Um editorial publicado em julho na EETop, uma plataforma de comunicação e discussão para empresas de eletrônicos chinesas, alertou que a postura crítica de Trump em relação às relações comerciais dos EUA com aliados como Europa, Japão e Coreia do Sul, os quais possuem interesses na China, poderia prejudicar a cooperação. Isso poderia ter consequências negativas, especialmente na cadeia globalizada da indústria de semicondutores, onde a supressão unilateral pelos Estados Unidos seria ineficaz.
Pode ser que a Europa e os Países Baixos optem por facilitar intencionalmente as coisas para nós (para contornar restrições), o que nos permitirá importar EUVs. Isso foi mencionado em um editorial. A China atualmente depende de máquinas de litografia ultravioleta extrema estrangeiras e enfrenta impedimentos para acessar as mais avançadas.
Auto-suficiência
Não importa quem vença a eleição, os analistas e uma análise de dados da Reuters apontam que o setor de tecnologia da China está muito mais centrado e independente do que estava quando Trump ou Biden assumiram o cargo.
A disputa comercial tem gerado uma série de retaliações, como as limitações de exportação de terras raras pela China, e também levou a indústria de tecnologia chinesa a se distanciar de sanções.
Em 2016, a China realizou quatro projetos de compra do governo no valor de mais de 10 milhões de yuans ($1,4 milhões), substituindo hardware e software estrangeiros por opções nacionais, de acordo com uma análise da Reuters de propostas. Em 2021, houve 169 projetos desse tipo – 75 deles envolvendo mais de 50 milhões de yuans em financiamento estatal.
Dessa forma, mesmo que Trump ou Harris tenham aprovado restrições de exportação, as empresas nacionais estão agora menos reliantes de tecnologia estrangeira e estão mais bem equipadas para enfrentar as mudanças no cenário comercial.
“Enquanto nós avançamos em semicondutores, em outros setores como robótica, há um grande potencial para inovação”, afirmou Robert D. Atkinson, líder da Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação de Washington DC. “Eles têm a capacidade de desenvolver tudo o que necessitam dentro de suas áreas.”
A relevância dos mecanismos de controle de exportação como indicador de resistência na China foi claramente demonstrada por Harris em uma palestra no Economic Club de Pittsburgh, em agosto, onde ela criticou Trump por enviar “pequenas e avançadas peças de semicondutores para a China, auxiliando-os a modernizar suas forças militares”.
O comentário referiu-se à postura da administração Biden em limitar o acesso da empresa líder de mercado Nvidia a chips avançados usados para atividades de inteligência artificial.
Apesar disso, as empresas chinesas continuaram a investir significativamente em Inteligência Artificial. Em julho, a China foi responsável por 36% dos 1.328 principais modelos de idiomas em nível global, ficando atrás dos EUA, que liderou com 44%, de acordo com informações da Academia de Tecnologia da Informação e Comunicações da China.
A expansão das limitações tecnológicas de Biden fez com que os chineses acreditassem que ele seria menos agressivo do que seu antecessor. Por isso, algumas empresas de tecnologia optaram por não fazer projeções desta vez.

“Estamos enfrentando uma nova realidade atualmente”, afirmou um executivo de uma renomada empresa de tecnologia chinesa. “Estamos incertos sobre o futuro e, por isso, seguimos em frente com agilidade.”
Uma unidade de moeda chinesa renminbi equivale a 7.1201 dólares.